Não se deixe levar pelo passado (audiovisual) dessa turma. Estreando no comando de um longa-metragem de ficção, Ian SBF, o diretor dos vídeos do fenômeno Porta dos Fundos – canal de humor da internet que conta com quase dez milhões de seguidores (em abril de 2015) – apresenta um Entre Abelhas que está mais para o drama do que para a comédia.
Não se deixe embalar pela fama do elenco egresso do humor. Protagonizado por Fábio Porchat – que assina o roteiro, cuja primeira versão foi escrita há quase dez anos, ao lado de SBF –, o filme conta ainda com Luis Lobianco, Marcos Veras e Leticia Lima (todos do Porta) – ao qual se juntam, em papéis de destaque, Irene Ravache, como a mãe do personagem central, e Giovanna Lancellotti (em um registro contido, maduro), como a ex-mulher dele.
E, por fim, não se deixe enganar pela primeira metade do filme, essa sim, de tom escrachadamente cômico.
O título vem da teoria de que as abelhas estão sumindo no mundo – fato que seria capaz de dizimar a humanidade, uma vez que, sem polinização, estaríamos fadados ao apocalipse. Assim como os insetos são as pessoas na (falta de) visão de Bruno (Porchat). Depois de uma separação traumática, ele sofre de uma condição que o faz, gradualmente, deixar de enxergar as pessoas – sem uma explicação aparente.
A mãe (sempre ela) é a pessoa com quem Bruno mais vai contar para enfrentar essa situação. Bem-intencionada, ela contrata Nildo (Lobianco), o atendente de pizzaria que, precisando fazer um troco extra, topa servir de cobaia para os testes de visão do personagem principal. A parceria Ravache/Lobianco garante os momentos mais divertidos do filme, exatamente por serem baseados em um tipo de humor involuntário.
Apoiado por uma equipe técnica de alto nível, Entre Abelhas tem um apelo visual que impressiona. Seja pelo motorista de táxi que “desaparece” com o carro em movimento, seja pelos belos planos da cidade vazia. Tudo feito sem recorrer a fundos verdes e efeitos especiais.
E o filme, que começa bobo, de repente vai ganhando uma densidade dramática cada vez mais forte, o que, dado o passado/ fama dos realizadores, não deixa de ser uma opção surpreendente. Sim, eles (Fábio e Ian são também produtores) poderiam ter investido em uma produção cômica, o jogo ganho, o que o mercado e, sobretudo, o público, esperaria, mas optaram por experimentar – e, apesar de um certo histrionismo no início, Porchat consegue sustentar a carga dramática do personagem.
No fim, a execução, em si, é menos impactante do que a ideia. O desfecho é ousado, mas vazio: é como se Entre Abelhas pareasse com “um Spike Jonze” (Ela), mas não tivesse fôlego para acompanhar o voo. O filme, porém, coloca (confirma) SBF como um nome que merece atenção também no cinema.
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