segunda-feira, 30 de março de 2015

A Outra


Anne (Natalie Portman) e Mary (Scarlett Johansson) são irmãs que foram convencidas por seu pai e tio ambiciosos a aumentar o status da família tentando conquistar o coração de Henry Tudor (Eric Bana), o rei da Inglaterra. 

Elas são levadas à corte e logo Maria conquista o rei, dando-lhe um filho ilegítimo. Porém isto não faz com que Ana desista de seu intento, buscando de todas as formas passar para trás tanto sua irmã quanto a rainha Catarina de Aragão (Ana Torrent).



Intrigas, amores proibidos, escândalos, assassinatos, traições, pecados, blasfêmia.....não, você não está assistindo a mais uma novela mexicana....esses são relatos da história. Para os amantes dos filmes que retratam as famílias reais, este é mais um presente que nos conta a história, e quem sabe, nos ensinar um pouco sobre o futuro.

Sem muito “alvoroço” o filme passou quase despercebido nos EUA e aqui no Brasil, sem grandes premiações ou indicações. O que não quer dizer que não seja bom. Pelo contrário. Mais um filme que pode nos ensinar através da história, seja ela inglesa, americana ou brasileira.

Natalie Portman é Ana Bolena, a rainha inglesa mais comentada e talvez mais criticada de todos os tempos. Sua filha, Elizabeth, já rendou alguns grandes filmes e produções, assim como prêmios a renomadas atrizes.  Depois de balançar o mundo de vários espectadores em Closer- Perto Demais, Portman retorna a um papel dramático e complexo, onde pode novamente mostrar seu talento. Apesar do filme ser direcionado a sua irmã, Maria, é Ana Bolena “Portman” que rouba a cena e nos remete a reflexões e analogias, a seguir.

Quem eram os “Reis” senão “escolhidos por Deus”, representantes   máximos no imaginário da população medieval? Eram representados pelo “Sol”, símbolo psíquico do PAI, do Poder, e do Falo. São comuns os relatos a esta simbologia na literatura específica. Como explicar a adoração e submissão de tantos, pela representação simbólica de alguém, “filho legítimo” e herdeiro do trono, responsável por todo destino de uma nação?   Tentem imaginar como seria NASCER acreditando que aquele que governa seu país havia sido escolhido por “Deus”, superior a você e a todos, e a aceitação deste como tal soberano seria essencial para sua sobrevivência. Não estamos falando somente no fato de não ter “liberdade política”, mas também em ACREDITAR que aquilo lhe era imposto por “Deus” e não poderia ser contestado. Com esta visão se torna mais fácil entender alguns comportamentos daquela época.

Gravidez  sempre foi , e não podemos negar, um objeto de barganha. O “golpe da barriga” era dado nos séculos passados e alguns homens ainda continuam com a mesma “ingenuidade” e caem no mesmo golpe nos dias de hoje. São inúmeros os relatos na clínica que nos mostram que este fato ainda ocorre. A esperteza de Ana e Maria Bolena no filme nos mostra que mesmo sendo vistas como objetos e não reconhecidas socialmente, as mulheres continuavam buscando pelos seus ideais, mesmo em condições tão adversas. (no sentido mais feminista possível). Qual a diferença entre Ana e Maria Bolena e as eternas aspirantes a estrelas de televisão ou caçadoras de astros de futebol nos dias de hoje? Nenhuma.....

Se você, leitor, acha que os adolescentes dos dia de hoje são “rebeldes”, “maldosos” e “folgados”, imagine como seria ser adolescente na corte inglesa, rodeado de inveja, traições e todas as tramas que a história nos relata. Isso pode nos remeter a ideia de que os conflitos em todas as fases da vida são referenciados dentro do seu contexto histórico e social no qual estão incluídos, e jamais podem ser comparados entre “gerações”. Isto se aplica aqueles comentários do senso comum “na minha época as coisas não eram assim....”

Acho que o filme pode nos trazer reflexões sobre as questões “temporais” que cercam a vida moderna. Vamos criar um exemplo: Há alguns anos, o trajeto para o trabalho demorava em média 60 minutos. Com a melhoria das vias urbanas e consequentemente da tecnologia, esse trajeto passou a 30 minutos. Anos depois, mais melhorias e este trajeto leva hoje 15 minutos. Agora, em pleno século XXI, SE seu ônibus levar 18 minutos pelo mesmo trajeto, pode ser uma “catástrofe”. “Time is Money” e encorporamos isto de uma tal maneira que qualquer minuto ou segundo a mais no dia pode nos trazer benefícios e com isso, ocupamos 18 ou 20 horas de nossos dias, com o eterno intuito de produzir mais, para ganhar mais, para conseguir mais e seguir sempre com “mais e mais”. Com isso, perdemos a possibilidade de elaborarmos alguns conteúdos e talvez, isso nos faça requerer cada vez mais e mais ajuda psi nos dias de hoje.

Não temos mais tempo para refletir sobre sentimentos, decidir sobre ações, repensar atitudes e elaborar respostas.  Isso se reflete em todos os aspectos da vida moderna. Repare no filme as questões ligadas a “sexualidade”. Não temos somente uma mudança de “valores” sobre o “corpo” e o “sexo”, envolvendo tabus, mas também questões ligadas a TEMPO, onde “quanto antes, melhor”. Com isso, de certa o sexo perdeu um pouco do seu “segredo”, “processo”, “curioso” e passou a ser algo mecânico, necessário, rápido e urgente, afinal, tempo é dinheiro!!

Por outro lado, podemos ainda refletir com o filme sobre as decisões e mudanças na história e em como uma maioria fica sempre “a mercê” de uma minoria no poder. As grandes mudanças, com impactos até os dias de hoje na história do Reino Unido, foram tomadas não com o intuito de ajudar ou melhorar as condições de vida do POVO e sim, para satisfazer os caprichos de poucos.  Com isto, podemos pensar que nao muito mudou em relação a questões de poder e política, mesmo depois do término nas “monarquias”.

Ana Bolena não foi somente uma amante do Rei ou uma menina boba, enfeitiçada pelo glamour e pelos benefícios da corte. Ela talvez tenha sido uma das primeiras ESTRATEGISTAS da história, usando seus conhecimentos do Senso Comum sobre comportamento humano, para conseguir alguns de seus objetivos.





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