Em ano de eleição não há nada melhor do que uma obra para refletirmos sobre todos os nossos erros (e são muitos) na hora de escolhermos nossos representantes. E não poderia existir uma obra melhor pra gerar essa reflexão do que O Bem Amado.
Adaptado do texto de Dias Gomes, o filme narra a história de Odorico Paraguaçu, um político nada ético, e sua saga como prefeito da pequena cidade de Sucupira que por uma estranha coincidência, tem início exatamente no mesmo dia em que Jango renunciou ao poder e o Brasil quase que viu antecedido o Golpe Militar (21/08/1961).
Falastrão, oportunista e corrupto, Odorico carrega consigo o que é mais presente na imensa maioria dos candidatos que conhecemos. Ele surge na história já se aproveitando para discursar sobre o caixão do antigo prefeito, seu rival político, e assim já iniciar sua campanha para substituí-lo. E é impressionante a cena em que ele dá conta de si e percebe que reclamando da longa caminhada feita para enterrar o prefeito em outra cidade (pois pasmem, Sucupira não possuía um) encontra não só o mote de toda sua campanha, como a justificativa para praticar todos os seus crimes. Sacrifica o povo e manipula bem os fatos para que tudo saia como planejado, exceto (pasmem novamente) o fato de já com dois anos de mandato nenhum sucupirense morreu para inaugurar o super faturado cemitério.
E nem na oposição encontramos algum consolo, pois embora Vladimir Castro quando está em público defenda todos os ideais políticos em prol da população, deixa claro em seus atos que na verdade nada mais quer do que estar no lugar de Odorico e se beneficiar do seu poder. O Bem Amado assim, é um filme sem nenhum protagonista, mas sim com dois antagonistas.
E se rimos dos discursos enfeitados e carregados de neologismos de Odorico, - que é magistralmente interpretado por Marco Nanini - sentimos vergonha ao mesmo tempo sabendo que se rimos é porque ele também está nos enganando e que do mesmo modo nossos políticos nos enganam rotineiramente.
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