domingo, 8 de março de 2015

Sparkle



À primeira vista é difícil não associar Sparkle, remake do longa homônimo dos anos sessenta de Joel Schumacher, com Dreamgirls, dirigido por Bill Condon, que era centrado na história de três jovens cantoras negras em busca do estrelato no hall da fama da Black Music americana dos anos sessenta e que era levemente inspirada no trajeto do grupo The Supremes, que tinha Diana Ross como líder.

Na produção, também vendida como o último trabalho artístico da superstar Whitney Houston, três irmãs conhecem o sucesso e a decadência paralelamente com as intensas transformações ocorridas individual ou coletivamente ao redor delas. A mais experiente e talentosa é Tammy “Sister” Anderson (Carmem Ejogo, fisicamente parecida com Beyoncé). 

A ascensão do trio se deve em partes por causa dela e seu comportamento explosivo, um misto de sensualidade e ousadia. Em choque constante com a mãe Emma (Houston), a personagem está sempre a dois passos à frente das irmãs na impetuosidade. Delores “Dee” Anderson (Tika Sumpter) é uma pretensa estudante de medicina que sonha ser aceita em uma das prestigiadas universidades do país. Apesar de não ter tanto destaque, suas ações são decisivas em uma importante passagem do grupo. Já Sparkle Anderson (Jordin Sparks, vencedora da quinta edição do televisivo American Idol) é a romântica e a mediadora nos conflitos familiares. 

Compassiva quanto às manipulações da matriarca, acredita que seu futuro artístico continuará restrito as suas funções na igreja em que frequenta com a família aos domingos. Compositora, acredita que a mais velha, que se apresenta em clubes noturnos, possa atingir o sucesso interpretando suas canções. Neste meio tempo, outros personagens somam-se à trama das Anderson. Stix (Derek Luke) é um jovem que após conferir a apresentação do trio torna-se o empresário e o envolvimento romântico da protagonista. Satin (Mike Epps) , por sua vez, é um controverso comediante de stand up, que não consegue esconder sua negação à própria raça, em um preconceito camuflado em piadas que envolvem na maioria das vezes o embate entre brancos e negros, em plena época da luta de Martin Luther King pelos direitos civis.



Sem o glamour ou a ótima reconstituição de época do já citado musical de Bill Condon, Sparkle é uma produção cheia de altos e baixos. Entre seus trunfos, Carmem Ejogo é uma presença luminosa. A atriz faz um trabalho impecável, construindo sua personagem tendo por base o que se espera de uma diva da música, com os caprichos e orgulho, sabendo extrair do espectador tanto repulsa quanto pena nos atos sequenciais. A degradação de Sister faz com que Ejogo capture a atenção de todos, em especial quando contracena com a veterana Whitney Houston (ela mesma uma vítima dos excessos na vida real) e a debutante Jordin Sparks. Outro ponto a favor é a trilha sonora que reúne pérolas da Black Music como Curtis Mayfield, considerado pela Rolling Stones um dos melhores guitarristas de todos os tempos. No entanto — salvo as considerações — o filme apresenta grande fragilidade no roteiro e na direção do desconhecido Salim Akil, um cineasta que frequentemente comanda produções estreladas por atores negros.

 A dupla Mara Brock Akil e Howard Rosenman contextualiza sua história com as pontuais movimentações inerentes as situações dos negros nos EUA dos anos sessenta. Dos espaços restritos à constrangedora “necessidade” das artistas em camuflarem suas origens por meio de perucas (antológica a cena onde uma personagem é alvo das mais severas censuras quando decide cabular tão orientação), Akil e Rosenman são proeminentes na abordagem, em contrapartida se descuidaram em alguns pontos,  tornando incoerentes certas ações. Impossível não questionar, por exemplo, como as garotas conseguiram esconder por tanto tempo da mãe, feroz opositora, e dos vizinhos que se tornaram famosas.

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