segunda-feira, 21 de março de 2016

Mundo Cão (Estação Net Gávea 1)

Em 2007, antes de ser sancionada a lei que proíbe o sacrifício de animais abandonados, Santana (Babu Santana) é um funcionário do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo que trabalha recolhendo cães de rua.

Certo dia ele captura um enorme cachorro raivoso cujo dono (Lázaro Ramos) só aparece para recuperá-lo dias depois, quando já é tarde demais.

Irado, o homem culpa Santana pelo ocorrido e trama uma cruel vingança.












Depois de chamar a atenção da crítica com o excelente ‘Estômago’ (2007), e dirigir os não tão bem-sucedidos ‘Corpos Celestes’ (2010) e ‘O Duelo’ (2012), o diretor Marcos Jorge volta à cena cinematográfica brasileira com ‘Mundo Cão’.
Ambientado em São Paulo, o filme retrata a história de Santana (Babu Santana), um homem que ganha a vida recolhendo cães abandonados. Casado com Dilza (Adriana Esteves) e com dois filhos, Santana vê sua vida mudar completamente quando o dono de um cachorro que acabou de ser sacrificado aparece e os dois acabam discutindo. O dono em questão é Nenê (Lázaro Ramos), que é uma espécie criador de cães e que os utiliza para agredir e assustar seus inimigos.
Roteirizado por Marcos Jorge e Lusa Silvestre (‘E aí… Comeu?’), o ponto alto do longa é exatamente o roteiro: além de inventivo, consegue surpreender com suas reviravoltas na história.
É interessante observar que, assim como outros filmes do diretor paranaense, este também se propõe a trabalhar o comportamento humano com a ajuda de elementos singulares. Estes, além de ajudarem a contar a história, também ampliam nossa percepção sobre a trama. Se em ‘Estômago’ a grande sacada era o envolvimento do personagem central com a comida, em ‘Mundo Cão’ são os cachorros os responsáveis por ilustrar os temas centrais do longa.
A inteligente produção trabalha com a complexidade humana. Não há cem por cento vilões, nem cem por cento mocinhos. É possível sentir pena de uma fera enjaulada, e é possível temer aqueles que, a princípio, nos parecem inofensivos.

Contudo, apesar dos méritos do roteiro, o longa acaba pecando no desenvolvimento do núcleo familiar, que foi explorado de forma superficial e com cenas mal executadas. A trilha sonora também não é das melhores, e por muitas vezes se fazia desnecessária ou parecia não se encaixar.
Com uma história sobre vingança, o filme mostra o quão irracional o homem se torna quando está em uma situação alarmante.
Mundo Cão’ é um bom suspense nacional, que definitivamente vai surpreender o público e promover uma reflexão sobre como o meio e as situações em que vivemos podem influenciar e mudar nosso caráter.



domingo, 20 de março de 2016

Carol (Estação Net Rio 3)

A jovem Therese Belivet (Rooney Mara) tem um emprego entediante na seção de brinquedos de uma loja de departamentos.

Um dia, ela conhece a elegante Carol Aird (Cate Blanchett), uma cliente que busca um presente de Natal para a sua filha.

Carol, que está se divorciando de Harge (Kyle Chandler), também não está contente com a sua vida.

As duas se aproximam cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos.

Todd Haynes é um diretor que, apesar de ter poucos trabalhos no currículo, tem como marca registrada o perfeccionismo na ambientação de seus filmes/série. Assim foi com Velvet Goldmine,Longe do ParaísoMildred Pierce e assim é em seu novo trabalho, o excelente Carol, exibido em primeira mão no Festival de Cannes.





O filme do ano para a Associação de Críticos de Cinema de Nova Iorque é Carol, de Todd Haynes: porque o elegeu como melhor filme, porque designou Haynes como melhor realizador, porque premiou o argumento – de Phyllis Nagy, autora da adaptação de The Price of Salt, o romance que Patricia Highsmith escreveu em 1952 sob o pseudónimo de Claire Morgan - e, last but not the least, porque distinguiu a fotografia de Ed Lachman.

Um filme de Todd Haynes, claro, mas também um filme do seu director de fotografia e ainda de Phyllis Nagy, que tinha este projeto em mãos há anos e que esteve em vias de ser gorado porque o realizador inicialmente escolhido se mostrou indisponível – foi através da sua produtora e cúmplice Christine Vachon que Haynes chegou ao projeto de adaptação ao cinema da “história de amor lésbico” na América dos anos 50 que Highsmith escreveu (as personagens são interpretadas por Cate Blanchett, uma dona de casa, e Rooney Mara, uma fotógrafa, e as duas atrizes ficaram de fora das escolhas dos críticos).

Sendo um filme de Haynes, mais uma contribuição para o “arquivo” de imagens, comportamentos, silêncios e repressões (e guarda-roupa) da vida privada americana que a sua obra vem fixando (Superstar-The Karen Carpenter Story, Safe-Seguro, Longe do Paraíso, a  mini-série Mildred Pierce…), é sobretudo um filme de domínio de uma “carpintaria” e das convenções, filme mais normalizado e serenado se compararmos com a realidade intensificada que consumia e ameaçava destruir cada plano de Longe do Paraíso, por exemplo - é como se o modelo de série televisiva se tivesse prolongado a partir de Mildred Pierce.

Michael Keaton foi considerado o melhor ator pelos críticos nova-iorquinos (Spotlight, sobre a equipa de jornalismo de investigação do Boston Globe) e Saoirse Ronan a melhor atriz por Brooklyn, adaptação por Nick Hornby do romance de Colm Tóibín - Mark Rylance (A Ponte dos Espiões) e Kristen Stewart (As Nuvens de Sils Maria) foram os escolhidos nas categorias secundárias.

Inside Out foi considerada a melhor animação (como nas escolhas da National Board of Review), O Filho de Saul o melhor primeiro filme - é o filme do húngaro  Laszlo Nemes, que se propõe um desafio intimidante, estar no espaço de uma pessoa, acompanhar os seus atos, estar com ela no Inferno, os crematórios de Auschwitz-Birkenau.

Timbuktu foi considerado o melhor filme estrangeiro, In Jackson Heights, de Frederick Wiseman, o melhor filme de não-ficção - o afecto de Wiseman, disfarçado como sempre pela reserva, vai de novo para um grupo de pessoas a organizar-se, a agir, a trabalhar, no caso concreto os habitantes de um bairro de Queens, Nova Iorque, que está a mudar, porque a gentrificação ameaça toda uma rede humana e social.





sábado, 19 de março de 2016

O Quarto de Jack (Oscar Melhor Atriz) (Lagoon 2)

Joy (Brie Larson) e seu filho Jack (Jacob Tremblay) vivem isolados em um quarto.

O único contato que ambos têm com o mundo exterior é a visita periódica do Velho Nick (Sean Bridgers), que os mantém em cativeiro.

 Joy faz o possível para tornar suportável a vida no local, mas não vê a hora de deixá-lo.

Para tanto, elabora um plano em que, com a ajuda do filho, poderá enganar Nick e retornar à realidade.

Com O Quarto de Jack, o diretor Lenny Abrahamson (Frank) tinha pela frente um projeto tido por muitos como “inadaptável”: traduzir em imagens as palavras que compõem o romance homônimo escrito por Emma Donoghue – lançado em 2010. O livro conta a história de uma mulher (Brie Larson, de United States of Tara) e seu filho, Jack (Jacob Tremblay), de apenas cinco anos, confiados em um pequeno quarto. Ela foi sequestrada há sete anos, quando tinha apenas 17 e, com a ajuda do menino, elabora um plano para tentar fugir do cativeiro.





Jack (Jacob Tremblay), um espirituoso menino de 5 anos, é cuidado por sua amada e devota Ma (Brie Larson). Como toda boa mãe, Ma se dedica em manter Jack feliz e seguro, cuidando dele com bondade e amor, e fazendo coisas típicas como brincar e contar histórias. Sua vida, entretanto, é tudo menos normal – eles estão presos – confinados em um espaço de 10 m² sem janelas, o qual Ma chamou eufemisticamente de “O Quarto de Jack”. Ma criou todo um universo para Jack dentro de O Quarto de Jack, e ela não parará por nada para garantir que, mesmo neste ambiente traiçoeiro, Jack seja capaz de viver uma vida completa e satisfatória. Mas, enquanto a curiosidade de Jack sobre a situação em que vivem cresce, e a resiliência de Ma alcança um ponto de ruptura, eles ensaiam um arriscado plano de escape, o que os leva a ficar face-a-face com o que pode ter se tornado a coisa mais assustadora: o mundo real.







sexta-feira, 18 de março de 2016

As Memórias de Marnie (Indicado Oscar Animação) (Now)

Anna (Hailee Steinfeld) é uma menina de 12 anos, filha de pais adotivos, sempre muito solitária e não exatamente feliz.

Um belo dia, em um castelo numa ilha isolada, ela conhece Marnie (Kiernan Shipka).

A menina loira de vestido branco se torna a grande e única amiga de Anna, mas ela descobrirá que Marnie não é exatamente quem parece ser.

As Memórias de Marnie chega aos cinemas brasileiros com o pedigree de ser o último filme do Studio Ghibli, cultuado estúdio de animação japonesa responsável por pérolas como Meu Amigo TotoroPrincesa Mononoke e A Viagem de Chihiro.










quinta-feira, 17 de março de 2016

Brooklin (Indicado Oscar Melhor Filme, Melhor Atriz e Roteiro Adaptado) (Estação Net Ipanema 2)

A jovem irlandesa Ellis Lacey (Saoirse Ronan) se muda de sua terra natal e vai morar em Brooklyn para tentar realizar seus sonhos.

No ínicio de sua jornada nos Estados Unidos, ela sente falta de sua casa, mas vai tentando se ajustar aos poucos até que conhece e se apaixona por Tony (Emory Cohen), um bombeiro italiano.

Logo, ela se encontra dividida entre dois países, entre o amor e o dever.

Saoirse Ronan estava na virada dos 12 para os 13 anos quando recebeu sua primeira indicação ao Oscar. Ela concorreu à estatueta de atriz coadjuvante pelo papel de Briony Tallis, a menina de imaginação fértil que ferra com a vida do casal Robbie (James McAvoy) e Cecília (Keira Knightley), acusando-o de um crime que ele não cometeu, em Desejo e Reparação (2007). Um filme de época (se passa em 1935), baseado no romance do escritor contemporâneo Ian McEwan, por sua vez, muito comparado com o universo de Jane Austen.









quarta-feira, 16 de março de 2016

Anomalisa (Indicado Oscar Animação) (Estação Net Botafogo 1)

Michael Stone (voz de David Thewis) é um palestrante motivacional que acaba de chegar à cidade de Connecticut.

Ele segue do aeroporto direto para o hotel, onde entra em contato com um antigo caso para que possam se reencontrar.

A iniciativa não dá certo, mas Michael logo se insinua para duas jovens que foram ao local justamente para ver a palestra que ele dará no dia seguinte. É quando ele conhece Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh), por quem se apaixona.

Desde Sinédoque, Nova York, em 2008, quando dirigiu seu primeiro longa-metragem, Charlie Kaufman, a mente brilhante por trás do roteiro de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), Adaptação (2002) e Quero Ser John Malkovich (1999), andava meio sumido.






É a mais insólita nomeação para os Óscares. Uma história adulta dos nossos dias utilizando uma velha técnica de animação. Chega esta semana e é uma surpresa

“Anomalisa” é uma obra estranha, ficcional e ao mesmo tempo realista demais. O fato de ser uma animação ajuda a criar uma distância, um afastamento da realidade, mas os “bonecos” que representam os personagens não são criaturas fofinhas: são muito parecidos com humanos, mas de uma textura diferente e com vincos no rosto que sugerem uma máscara. Não muito diferente das que nós, humanos, usamos de vez em quando.
O protagonista é Michael Stone (David Thewlis), um guru do telemarketing que viaja a Cincinnati para divulgar seu novo livro, um manual que promete melhorar as vendas em 90% ao ensinar o profissional a tratar seu cliente como um indivíduo, especial e único. Ironicamente, o próprio Stone não acredita em nada disso.





É de enorme sensibilidade que Kaufman tenha escolhido a canção “Girls Just Wanna Have Fun”, de Cyndi Lauper, como a favorita de Lisa – uma garota insegura que Stone conhece no hotel, e que acaba dando o nome ao filme. Apesar de alegre, a música fala de expectativas sobre o papel da mulher, que aprisionam tanto a elas quanto aos homens.
“Anomalisa” poderia ser um curta, pois se demora demais em cenas banais, como a abertura de uma porta ou a preparação de um drink. Mas há um propósito nisso: criar um ambiente mais real, mais cotidiano, com o qual qualquer um poderá se identificar e, eventualmente, se envergonhar ou se emocionar. O reconhecimento e a estranheza são igualmente amplificados.